Wednesday, November 28, 2007

O homem não

Houve finalmente um dia em que ele se apercebeu. Durante toda a sua vida tinha renunciado ao desiderato lógico de qualquer ser humano. Todos os minutos da sua vida passada, ou quase todos, foram gastos a esquivar-se a qualquer tentativa de ser feliz. E porque fugiu a isso? Nem ele sabia bem porquê. Tinha noção que umas vezes tinha sido por medo, outras por preguiça, outras ainda, por desculpas esfarrapadas inventadas em cima do joelho para contrariar qualquer acção próactiva, mas todas, porque pura e simplesmente nunca tinha acreditado que um dia pudesse ser, efectivamente feliz. Que tipo de pessoa era esta, que não acreditava na felicidade? Apenas um cadáver, que, por acaso tinha sangue a correr-lhe nas veias e sombras negras em vez de sinapses cerebrais.

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