Monday, July 02, 2007

" Herr Direktor"

O meu fim de semana foi, no minimo sui géneris. No entanto, o que me aconteceu reflecte, em parte a cultura vigente neste país. Fui, todo lambeiro, no sábado, até ao Algarve, para trabalhar num hotel. Chego a Albufeira e pergunto pelo nome do hotel. Ninguém sabia. Primeiro mau sinal. Telefono ao " Herr Direktor " a pedir instruções e lá consegui dar com aquilo e o aspecto por fora não foi nada animador. Segundo mau sinal. Entrei tinha logo depois da porta, uma grande escadaria, própria para partir pescoços a turistas mais incautos. Pergunto á recepcionista pelo " Herr Direktor" ao que ela me convida para esperar no sofá. Escusado será que o lobby de entrada mais parecia uma sala de espera de um consultório médico do que outra coisa qualquer. Tive, sem exagero, mais de vinte minutos á espera e não é que o homem tivesse muito ocupado, pois o " gabinete" do " Herr Direktor" estava com a porta aberta e via-se que o homem não estava particularmente atarefado e fez-me esperar, só porque é o "Herr Direktor". Lá me chama, cumprimento-o com um bacalhau, faz-me algumas perguntas estupidas, como sempre é apanágio nestas ocasiões e diz-me que o salário era de 420 euros. Terei ouvido bem, não era de 520 Euros, pergunto-me incrédulo. Terceiro mau sina. Engulo o orgulho e faço o Grand Tour ao hotel. O " Herr Direktor" mostra-me a piscina, ou antes, o tanque onde as bifas podem ir refrescar de quando em vez a vermelhidão das suas peles assadas. o resto do hotel parecia mais um condominio de apartamentos barato situado num qualquer arrabalde de uma grande cidade. Orgulhoso, mostra-me o jardim, que na sua opinião, era " a melhor parte do hotel". A mim, mais me parecia um ajuntamento errático de plantas, ideal para a prosperação das colónias de mosquitos. O Grand Tour teve que sêr interrompido porque um dos clientes se cortou numa das "armadilhas" plantadas na casa de banho e o " Herr Direktor ", teve que dispender todas as suas energias com o assunto, deixando-me ali plantado e especado sem saber o que fazer. Lá me deu a chave do quarto, o 103, número que me ficará para sempre na memória. O quarto, á primeira vista, parecia normal, mas um olhar mais aprofundado e um uso mais corrento do mesmo viria a retirar-me essa ideia, até ao momento a mais positiva. Um ponto a favor era que tinha TVCabo, mas a cama tinha um colchão mais rijo que os cornos de um touro e os lençois eram mais finos que uma folha de papel e um bocado para o curtos também. Digamos que, tive frio, no Algarve, em pleno verão e dizendo isso, acho que digo quase tudo. A casa de Banho, além de não ter espelho e parecer ter saido de um sanatório, não tinha água quente, mas sim morna. Tudo isto foi o quarto mau sinal. O quinto veio no meu dia de formação. Cheguei ás dez da manhã para a fazer e o " Herr Direktor " cagou para mim, claro. Esqueci-me de dizer que este, teria a minha idade e tirou um curso num politécnico qualquer em Gaia, mas toda a gente o tinha que tratar por Senhor Director. O que me valeu, foi a unica pessoa simpática que conheci no fim-de-semana, a recepcionista que estava de serviço naquela manhã, que me explicou as coisas a fazer, coisas que aliás, até um cego sem braços conseguiria desempenhar. Ainda assim o "Herr Direktor", guardava para si a escolha dos quartos, coisa que fazia brilhantemente, deixando aos recepcionistas a cara de pau para levar com as queixas dos clientes, coisa que aliás foi abundante nas seis horas que passei na recepção. Sai ás quatro e a pessoa que rendeu a unica simpática era extremamente antipática, dando-me de pronto a entender que eu ali era igual a um cão e que por isso teria que ser tratado como tal. Fui até á praia um bocado, mas nem fui á água de tão fria que estava. O resto do tempo até adormecer estive a remoer com os meus botões as razões que tinha para continuar ali. Cerca das onze da noite, a respsta foi bastante óbvia. Ala dali para fora.
Acordei cedo e fui falar com o " Herr Direktor". " Posso falar contigo?", perguntei-lhe ingénuamente." Consigo. Eu sou o seu director.", Respondeu-me zangado o bardamerdas. Apenas lhe disse isto." Olhe, vou-me embora.". Devia ter dito, olhe, afinal ,já não é o meu director.
Voltando então ao primeiro parágrafo, a minha experiência laboral deste fim de semana, reflecte a cultura de mediocridade que reina neste pais. Um bardamerdas, que dirige um hotel da pila em Albufeira, julga-se no direito de tratar abaixo de cão e de jogar com a vida de pessoas que têm muito mais qualificações que ele, esbanjando assim todo um know how e e experiência que essa pessoa poderia aportar, só por pura vaidade, vaidade essa incompreensivel num bardamerdas como aquele, que durante três meses é director de uma espelunca, e no resto do ano transporta baldes de merda de um lado para o outro. Enquanto houver estas personagens, e elas existem á fartazana, é mais que óbvio, que este país nunca mais vai para frente.

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