Friday, July 14, 2006

Pseudoreflexão existencialista

Quando confrontados com o facto de que, a vida como a conhecemos, irá acabar para dar lugar a outro tipo de vida completamente diferente, em que as amarras do apoio paterno serão irremediavelmente cortadas para dar lugar a uma navegação á bolina, quase sempre solitária. Os teus amigos, a tua familia, todos aqueles em quem confiaste, irão ter agora um outro papel, o papel do "quando posso", ou do " talvez no próximo fim-de-semana vá ai". Vez a vida como a conhecias entrar á deriva, desintegrar-se e reformular-se em algo que pouco ou nada tem a ver contigo. Entras na era do "produto enlatado", em que tudo o que te surge na vida parece vir bem acondicionado numa caixa com abertura superior em rolo. Arranjas um emprego, uma mulher, filhos, dinheiro para as férias e para jola e o tremoço pra ver milhares de jogos de futebol, dos quais, já sabes quase de antemão, o resultado final.
Durante este periodo, iremo-nos recordar do tempo em que não éramos enlatados, em que tinhamos sonhos, desejos e aspirações bem mais grandiosas do que chegar a casa, tirar os sapatos, espalhar o bedum de chulipampa pela casa, e como um autómato, exercitar o polegar no botão de mudar de canal.
Todo este processo ocorrerá sem darmos conta dele, tal a velocidade com que se vai apoderar das nossas vidas, transformando-nos em zombies susceptiveis de ter uma avaria, quando algo foge ao esquema previamente programado para a nossa rotina, que é a bem dizer, o modus operandi, de um "enlatado" encartado. Passado algum tempo, na nossa subrotina irá instalar-se o escárnio e a maldizência e o capitulo da novela do dia anterior.
A paixão, o desejo, o amor é sustituido pelo bem-estar de estar um dia sem queixumes, quer sejam eles fisicos ou psicológicos. Tentamos ir buscar algo dentro de nós, sentirmo-nos vivos outra vez, degladiamo-nos, lutamos bravamente contra esse facto, enxarcando-nos em Prozacs e Viagras, fazendo plásticas, liftings, blasteroplastias, peelings, e qualquer outra coisa que seja oriental e tenha a ver com o Chi, ou então, se fôr pobre, a ir á tasca do lado despejar mini copos de tinto carrascão até ficar pronto para chegar a casa e arrear na mulher. Tentamos, até á loucura, dar sentido a uma existência " enlatada ", através de complementos, de qualquer espécie e transferir o máximo das nossas paixões para algo que seja exterior a nós, algo que não nos sufoque como o smog que é andar todos os dias com o mundo ás costas.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home