Wednesday, November 16, 2005

Adeus avó

Cheguei a casa da minha avó, cerca das quatro menos um quarto da tarde. Toquei á campainha da porta, como sempre. Quem me abriu foi a tia Irene. Cumprimentei-a e veio a minha avó e abraçou-me. " Então, não queres comer nada? E beber alguma coisa?", perguntou-me, como sempre o faz, até á exaustão, " Não avó, obrigado", respondi várias vezes até que pedi um copo de água. A minha avó pega no copo e com a ânsia de servir e ser útil, empoleira-se em cima de uma cadeira para chegar á fonte do purificador de água. Dei-lhe logo o discurso de que não era preciso fazer aquilo, que não estás bem de saude, que só te faz mal. Aquele pequeno esforço tinha-a deixado ofegante. Olhei melhor para ela, estava com uma cor esquisita. Começa a falar comigo e a chorar amargurada, por que é que as pessoas não vêm visitar-me?, perguntava-me desgostosa. Tentei animá-la um pouco com as minhas palavras mas estava bastante cabisbaixa." Passas ai ainda?", perguntou-me, ainda meio chorosa." Passo", respondi-lhe.
Regressei da consulta, por volta das seis e meia. Entrei na sala, estava a minha avó e a tia Isaura, enroladas nos cobertores como é habitual também. Ficamos a falar um bocado e digo vou ao café dentro de pouco. A minha avó levanta-se da cadeira, manda os cobertores para o chão e começa-se a dirigir á cozinha para me fazer o café. Interceptei-a a meio da sala e ajudei-a a sentar-se outra vez. Fiquei mais um bocado ali, a deliciar-me com as eternas discussões entre a tia Isaura e ela. Poucos minutos antes das sete da noite, vou-me embora. Despeço-me da minha avó com um beijo e um abraço. "Adeus avó", digo-lhe enquanto saio. À porta de casa ainda lhe digo"Até amanhã".
Vinte horas depois, a minha avó morria, de ataque cardiaco, com a idade de oitenta e cinco anos

0 Comments:

Post a Comment

<< Home